Luiz Nazareno Teixeira de Assumpção Filho


07/02/2009

(1931-2009)

No dia 17 de janeiro último, descia ao túmulo sob intensa chuva, no cemitério da Consolação, na capital paulista, o corpo de Luiz Nazareno Teixeira de Assumpção Filho. Falecera no dia anterior, de falência múltipla de órgãos, assistido pelos Sacramentos da Santa Igreja, cercado de amigos e companheiros e tendo recebido a bênção papal. Irmãos de ideal, representando entidades de vários continentes, discursaram junto ao túmulo, enaltecendo o falecido: do Brasil, Paulo Corrêa de Brito Filho, pela Associação dos Fundadores (Discípulos de Plinio Corrêa de Oliveira); pela América hispânica, Carlos Federico Ibarguren; pela América do Norte, Raymond E. Drake; pela Europa, Benoît Bemelmans.

Seu corpo fora velado durante a noite anterior na sede do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, à rua Maranhão, no bairro de Higienópolis. Foi inumado na mesma sepultura em que se encontram os restos mortais de Plinio Corrêa de Oliveira e de sua mãe, Dona Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira. Reunia-se assim, no sepulcro, o discípulo ao mestre e àquela senhora que tanto o amparara. Inesperado encadeamento de circunstâncias e gestos generosos de amigos e parentes tinham levado à abertura da referida sepultura para receber seus restos mortais. Para seus companheiros de luta, tal reunião post-mortem revestia-se de alto significado simbólico: era um aceno da Providência divina confirmando um vínculo de tantas décadas, estabelecido no amplo campo de batalha em prol da Igreja e da Civilização Cristã.

Coroas de flores foram enviadas por familiares e amigos, bem como pela Associação dos Fundadores, pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e por entidades co-irmãs e autônomas de 16 países: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Chile, Colômbia, Estados Unidos, França, Inglaterra, Irlanda, Itália, Paraguai, Peru, Polônia e Portugal.

Sob a direção de Plinio Corrêa de Oliveira, foi Luiz Nazareno um dos co-fundadores, em 1960, da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, cuja atuação ideológica marcou o Brasil contemporâneo. Essa influência de Plinio Corrêa de Oliveira continua viva e pujante nos embates em prol da Civilização Cristã.

Luiz Nazareno nasceu em São Paulo a 13 de junho de 1931. Aluno do Colégio São Luiz, dos padres jesuítas, tornou-se congregado mariano sob a direção do Pe. Walter Mariaux S.J., ex-secretário mundial das Congregações Marianas. A partir de 1949, passou a integrar o grupo constituído por ex-colaboradores de “O Legionário”, órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo, que fora dirigido por Plinio Corrêa de Oliveira. Com a fundação do mensário Catolicismo, em 1951, a mesma “família de almas” passou a ser conhecida como “Grupo do Catolicismo”. E assim foi até a fundação da TFP, em 1960.

Membro de ilustres famílias paulistas de “quatrocentos anos”, Luiz Nazareno, consciente do valor de seu berço, abraçou com desprendimento e abnegação o elevado ideal que animou sua vida. Honrando sempre sua origem autenticamente paulista e tradicional, dedicou-se inteiramente em favor da Santa Igreja e da Civilização Cristã. Seu desejo e sua esperança foram continuamente centrados em manter íntegro o ideal representado por Plinio Corrêa de Oliveira. Em meio ao turbilhão e ao caos do mundo moderno, ele despretensiosamente sempre procurava corresponder a essa nobre aspiração. E seus companheiros que tiveram nele um conselheiro e um arrimo em todas as dificuldades, emocionados assistiram à descida de seu corpo à sepultura, onde já se encontravam aqueles que personificavam, um o seu idealismo, e a outra seu maternal amparo.

Paulista tradicional, cuja cortesia era marcada pelos áureos tempos da elegância dos salões, acrescentava à afabilidade de trato a elevação de pensamento. Sempre atento aos acontecimentos eclesiásticos ou civis, nacionais e de outros povos, seu notável senso histórico e psicológico o levava a ver os fatos contemporâneos em sua dimensão sacral, neles discernindo conseqüências ou imagens de passados eventos, bem como prenúncios do futuro. Os movimentos humanos, os rumos da sociedade moderna, os episódios da vida dos povos eram por ele analisados com fundamento na moral católica e no destino eterno dos homens.

Luiz Nazareno com Plinio Corrêa de Oliveira, acompanhando a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima em visita ao Brasil

Luiz Nazareno pouco escreveu; não deixa livros nem estudos dirigidos ao grande público. À diferença de tantos outros de seus companheiros, autores de livros, artigos e reportagens, dirigiu-se diretamente à opinião pública somente raras vezes. Foi, sobretudo, um homem católico de salão, esmerando-se na convivência com os seus. Enquanto tal, dedicou-se a tonificar em seus companheiros os princípios da Contra-Revolução. Fazia-o com profundidade e arte, a começar pelos ambientes que compôs para si. Aqueles nos quais residia, trabalhava e recebia, espelhavam a decoração nobre, sóbria e acolhedora da São Paulo de outrora. Naquela atmosfera — na sua atmosfera — a primeira impressão que o visitante tinha era de grande recolhimento. Até mesmo a luz parecia passar por refrações próprias, tamisada por voiles, cortinas ou vitrais – mesmo simples, mas de bom gosto –– cujo efeito era de aprazível recolhimento. Um suave odor, misto de fragrâncias de madeiras de lei de seu mobiliário, de uma limpeza esmerada, de flores postas junto a alguma imagem de Nossa Senhora, de um chá há pouco degustado, embalsamava o ar de seus gabinetes envoltos em distinção, placidez e quietude ... “com uma pontinha de melancolia, como devem ser os ambientes católicos existentes dentro da Revolução”, dizia Plinio Corrêa de Oliveira, comentando um de seus cômodos.

Tratando de temas da atualidade, preparando uma campanha pública da TFP — da qual foi diretor — ou sustentando membros atuantes de associações co-irmãs de outros países, ele tinha o dom, ao receber, de fazer seu visitante sentir-se distante das agitações e da vulgaridade de nosso século. Residia nele um senhor patriarcal, embora de suaves maneiras. Esse senhor impunha-se com naturalidade, pois todos percebiam naquela alma pura o respeito de si próprio e dos outros. Sua elevação de espírito e de conduta se impunha. Certa vez, quando pairava ainda nos ares a virulência igualitária da revolta da Sorbonne, em 1968, jantava com seus convidados num bom restaurante de São Paulo. Dois garçons, com a pseudo-superioridade que julgavam ter, proveniente do requinte do restaurante, começaram a comentar acintosamente os membros da mesa, os jovens católicos com sua modesta compostura. Terminada a refeição, Luiz Nazareno, com um sinal imperativo do dedo indicador, chamou os garçons. Eles hesitaram, cessando o sorriso sarcástico. Não esperavam aquela atitude, e já inseguros foram até ele, que lhes reprovou-os diretamente o procedimento. Calados e intimidados, nenhum ousou olhá-lo em face. Sua condição de católico era um tesouro que ele portava com seriedade e coragem contra os que pudessem imaginar que ela estivesse condenada pelo delírio dos novos modos sorbonnianos de ser.

Luiz Nazareno hauriu em Paris, para onde sua família o enviara ainda muito jovem, suas características maneiras de homem de salão, nas quais foi confirmado e apoiado por Plinio Corrêa de Oliveira. E até o fim permaneceu estreitamente ligado, por laços de profunda admiração, à cultura francesa. Seu coração nunca se apartou daquela Paris que conhecera no início dos anos 50. Sofria com as mudanças que abalaram a capital francesa, o desbragamento dos costumes, a vulgaridade crescente. Costumava mostrar nos jardins das Tulherias, junto à rue de Rivoli, um banco de pedra no qual certo dia se sentara; ao retornar à mesma cidade posteriormente à sua juventude, lamentava desolado a desfiguração infligida pela “modernidade” à Cidade Luz.


Missa de corpo presente de Luiz Nazareno na igreja de Santa Teresinha em Higienópolis, na capital paulista

Luiz Nazareno não foi um especialista, no sentido científico do termo, em nenhuma atividade ou tema. Fez seu um conselho de Plinio Corrêa de Oliveira, segundo o qual “devemos conhecer como ninguém aquilo que todos conhecem”.

A crise religiosa pós-conciliar, a escalada do anarquismo explodido na revolução da Sorbonne, a penetração do relativismo materialista tiraram gradativamente da sociedade o bom-senso, fruto daquele fundo de sabedoria cristã, até há pouco comum à maioria dos homens ocidentais. Tudo aquilo que os séculos tinham formado, como a razão de ser da sociedade, foi abalado por revoluções silenciosas ou ruidosas, mas sempre ferozmente agressivas contra a sabedoria cristã. As novas gerações ressentem-se dessa imensa crise contemporânea. É preciso ampará-las no percurso dos caminhos da vida. Favorecido por agudo senso psicológico, Luiz Nazareno as sustentava com penetração e acerto. Se é verdade que seu papel não foi o de se dirigir à generalidade dos homens através de livros e artigos, é verdade também que seu amparo aos que constituem o contingente contra-revolucionário serviu para fortificar as muralhas de defesa em face dos vagalhões provenientes do mundo moderno e das mutações brutais. Lutou com vigor cavalheiresco pela salvaguarda dos princípios católicos na sociedade temporal, consubstanciados no lema Tradição Família e Propriedade, do qual fez o princípio orientador de sua existência.

Na campa bendita que ele visitou incontáveis vezes, seu corpo repousa em meio àqueles que ele mais amou no seio da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Veja:
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