Nossa Senhora da Soledade de Oaxaca


13/02/2013

Valdis Grinsteins

Seu primeiro milagre no México data de 400 anos, e desde então não cessa de repetir-se

O reitor da Basílica Menor da Soledade — e também vigário-geral da Arquidiocese de Antequera-Oaxaca (México) — mostra um dos mais recentes mantos recebidos como agradecimento a Nossa Senhora e comenta: “O vestido que está estreando a Patrona é doação de uma família do estado de Oaxaca. Eles me disseram: ‘Padre, nós encomendamos nossa filha à Virgem. Ela estava doente, tinha câncer. Os médicos disseram que não havia esperança, mas a Virgem a sarou, agora não tem mais nada, até está trabalhando. Não temos como Lhe agradecer, por isso pedimos que aceite a doação deste vestido’. Esses são os milagres e a intercessão que faz a Virgem com Deus”.(1)

Mas como começou toda a historia desta imagem? Da forma mais inesperada, como muitos dos milagres de Nossa Senhora.A data desta notícia? Dezembro de 2011. Talvez seja o milagre mais recente, a ser confirmado pela Igreja após estrita verificação. Mas não é o único, nem de longe. Nesta região do México, todas as igrejas e capelas possuem uma cópia da imagem da Soledade, sendo muito consideráveis as multidões que visitam a Basílica. No dia 18 de dezembro de cada ano, solenidade da imagem, há festas tradicionais na região, repique de sinos, as chamadas “mañanitas” (ou manhãzinhas, canções que começam às 2 horas da madrugada e se repetem a cada duas horas), bem como procissões com fogos de artifício. Um francês em visita à América Latina observou que, neste continente, as procissões são uma mistura de devoção e pirotecnia.

Imagem chega de modo misterioso à região de Oaxaca

Fundada em 1532, a cidade de Oaxaca e sua região encontravam problemas sérios no momento de serem catequizados. Muitos dos índios eram ainda pagãos, e ficaram para a história os processos feitos pelos espanhóis ao cacique, aos governadores e aos sacerdotes de Yanhuitlan em 1544-1546 referentes à idolatria desses silvícolas. Em 1620 o problema ainda persistia. Foi então que, no dia 18 de dezembro desse ano, a imagem da Soledade chegou, ficando extinto o paganismo e implantada a devoção à Virgem.


Imagem de Nossa Senhora da Soledade em veneração pública
Na época, ainda no começo da colonização, havia poucos portos, para chegar aos quais era exíguo o transporte e pouquíssimos os caminhos. Assim, muitas cargas destinadas a locais longínquos eram obrigadas a dar voltas enormes para chegar a seu destino. Foi o caso dessa imagem que, destinada à Guatemala, teve de ser enviada necessariamente ao porto de Veracruz, no México, para ser transportada por terra a uma distância de quase mil quilômetros. Ninguém sabe como, a mula que levava a imagem perdeu-se no caminho, incorporando-se a outra caravana de mulas portadoras de mercadorias e que passava por Oaxaca. O dono dessa caravana ficou perplexo ao ver juntar-se às suas mulas uma outra carregando uma caixa atravessada no lombo. Não havia ninguém por perto procurando a mula perdida. Por isso, ele deixou que a mesma se incorporasse ao comboio, seguindo seu caminho.

Chegando a Oaxaca, ele pensava procurar as autoridades e explicar o ocorrido, para evitar que alguém depois o acusasse de roubar a mula e sua carga. Entrando na cidade, perto da ermida de São Sebastião, a mula jogou-se ao chão, não havendo quem a fizesse levantar. Em vista disso, o chefe da caravana mandou chamar o prefeito da cidade, para que na sua presença fosse descarregada a caixa e se fizesse uma revista oficial de quanto nela havia. Apenas tiraram a caixa, a mula levantou-se e caiu morta um instante depois.

         Aberta a caixa, verificaram que continha uma imagem de Nosso Senhor, representado na sua Ressurreição, e também a face e as mãos de Nossa Senhora, sob o título de Nossa Senhora da Soledade ao pé da cruz, conforme um rótulo ali depositado. Comunicado o fato ao bispo do local, Dom Juan Bartolomé de Bohorquez e Hinojosa, da Ordem dos Dominicanos, decidiu que, até se descobrir quem era o legitimo proprietário da imagem, esta ficasse depositada na ermida de São Sebastião, diante da qual ocorrera tudo o acima descrito; e que o Cristo fosse enviado à ermida de Veracruz.

Curiosamente, a imagem nunca foi reclamada por ninguém, e não consta em nenhum lugar que qualquer pessoa tenha comunicado às autoridades coloniais a perda de uma mula contendo carga tão valiosa para a época. Apesar de a cidade de Oaxaca encontrar-se bem longe do mar, a imagem — que é a padroeira dos pescadores da zona — tem recebido destes, em doação, numerosas pérolas e corais, sem contar os mantos e vestidos. A coroa da Virgem é também muito rica, contendo dois quilos de ouro e 600 diamantes. A coroa original — usada por ocasião da coroação canônica em 18 de janeiro de 1909 — infelizmente foi roubada. Era um presente da Marquesa de Selva Nevada, mãe do então bispo de Oaxaca, Mons. Eulogio Gillow y Zavalza.

Devoção com fatos estranhos, embora compreensíveis

A mais de um leitor poderá parecer estranho que a imagem não seja uma escultura completa, mas represente somente a face e as mãos da Virgem. Entretanto, isto era comum outrora. As imagens eram revestidas à maneira das senhoras da época, só que, obviamente, com muito mais esplendor. E não havia então nada do liberalismo de costumes existente hoje em matéria de vestuário. Não era, pois, estranho que somente a face e as mãos ficassem visíveis. Com frequência somente essas partes do corpo eram esculpidas, facilitando o transporte das imagens.

Outra estranheza poderia advir do fato de que, tendo sido encontradas duas imagens — uma de Cristo e outra da Virgem —, apenas a de Nossa Senhora, guardada no local onde ocorreram os fatos, esteja na origem de numerosos milagres, não se constatando registros milagrosos relativos à imagem da Ressurreição de Nosso Senhor.


Basílica Menor de Nossa Senhora da Soledade

Estamos assim diante de um dos mistérios de Deus, os quais só no dia do Juízo Final serão explicados. Uma hipótese: talvez para a conversão desses índios pagãos, cultores de furibundos e malfazejos “deuses”, fosse preciso apresentar como contraste a bondade materna e desinteressada da Mãe de Deus. Parece também que Nosso Senhor quis tornar patente que através de Nossa Senhora se chega mais facilmente a Ele.

Seja qual for a verdadeira causa desta devoção, a qual perdura até os nossos dias, e dos milagres que os devotos asseguram ocorrer, um fato é inconteste: Nossa Senhora sempre atende os fiéis que A invocam com fé e confiança.

Veja:
Revista Catolicismo

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