A INOCÊNCIA
No exemplo de uma confidente da Imaculada Conceição


13/05/2010

Gregorio Vivanco Lopes

A inocência é um privilégio infantil? É um estado vedado aos adultos? Trata-se de simplesmente não pecar por insuficiência de idade ou de condições? Um estado meramente negativo, que consiste apenas em não fazer algo errado? O exemplo de Bernadette Soubirous — a santa a quem Nossa Senhora apareceu em Lourdes — é altamente esclarecedor de todas essas dúvidas.


Santa Bernadette Soubirous

Para homenagear a Virgem Santíssima, neste mês de maio que lhe é especialmente dedicado, é oportuno aprofundar o tema da inocência. Nossa Senhora é a criatura inocente no mais alto grau possível. Imaculada desde o primeiro instante de seu ser, ela é a protetora de todas as inocências e restauradora daquelas que se perderam, aproximando-as da fonte infinita de toda inocência, que é Nosso Senhor Jesus Cristo.

A inocência é um tema dos mais altos e mais delicados, e também dos mais belos dentre os que abordam o relacionamento da alma com Deus e a própria situação da alma diante de si mesma. O Profeta Davi exclama:

“Então foi em vão que conservei o coração puro, e na inocência lavei as minhas mãos? [...] Reflito para compreender tal problema, muito penosa me pareceu esta tarefa até o momento em que entrei no vosso santuário. [...] Vós me tomastes pela mão. Vossos desígnios conduzir-me-ão, e por fim na glória me acolhereis” (Ps 72, 13-24).

Cheia de esperança, a criança crê com facilidade no que lhe contam e é toda voltada para entregar-se, para servir, para admirar

Idéia superior de inocência

O objeto do nosso interesse não é aqui o sentido corrente de inocência, que se identifica com a fase inicial da vida — a inocência infantil, tão bela e digna de admiração, tão frágil que nos inclinamos a protegê-la. Este é um sentido legítimo, muito verdadeiro, mas insuficiente se nos limitarmos a ele e não o aprofundarmos.

Outro sentido corrente de inocência, já referente ao adulto, tem conotação algum tanto judiciária. É inocente aquele que não cometeu delito ou não pecou. Em juízo ele será absolvido, e diante dos homens pode andar de cabeça erguida. Este é o aspecto por assim dizer “negativo” da inocência: é inocente quem não praticou o mal.

Mas ambos esses sentidos estão vinculados a uma idéia superior de inocência, que os abrange e os transcende, e corresponde a uma perfeição da alma humana tal como deve ter brilhado em Adão e Eva antes do pecado original. Nós a encontramos resplandecente na alma imaculada de Maria Santíssima e, acima de toda possibilidade de descrição humana, na alma de Nosso Senhor Jesus Cristo, unida hipostaticamente à divindade.

A explicitação de Plinio Corrêa de Oliveira

Vem a propósito levantar aqui algumas perguntas: Em relação a nós, marcados pela herança terrível do pecado original, é possível falar-se em inocência? Como é a alma do inocente? Pode-se nunca perder a inocência? Uma vez perdida, pode-se recuperá-la? No todo ou em parte? Qual o papel da graça sobrenatural para manter o inocente na sua inocência, ou para reconduzir a ela aquele que a maculou pelos caminhos da vida?

Esse tema, tão fundamental para quem quiser conhecer-se a si mesmo e suas relações com Deus, foi tratado com o descortino de um doutor da Igreja e a elevação de um santo por Plinio Corrêa de Oliveira. O que ele explicitou a respeito é, na realidade, reflexo de sua vida. Não nos deixou sobre o assunto uma obra acabada, mas uma primeira compilação dos seus ensinamentos foi realizada por seus discípulos e publicada no livro A inocência primeva e a contemplação sacral do Universo,(1) cuja leitura e meditação recomendamos.

Objetivo deste artigo

Reproduzindo trechos escolhidos da citada obra, pretendemos ajudar o leitor a compreender e apreciar aquele tipo de santidade, imensamente elevado, que é característico da alma inocente.

Em seguida exemplificamos com a santidade de Bernadette Soubirous, tal como vem descrita por seu conhecido biógrafo Pe. René Laurentin.(2) Não abordaremos as aparições de Lourdes, os milagres operados na gruta de Massabielle, nem a vida da vidente. Embora sejam sedutores esses temas, nosso objetivo é fornecer ao leitor um exemplo concreto de inocência levada até a santidade.

Após apresentar muito sumariamente alguns traços característicos da inocência, mediante a análise de Plinio Corrêa de Oliveira nesse livro, o exemplo de Santa Bernadette nos auxilia a entender a utilidade e o elevado alcance da matéria.

* * *

A partir daqui, este artigo se divide em duas partes bem distintas. Na primeira são transcritos trechos sobre a inocência primeva, conforme expostos em conferências de Plinio Corrêa de Oliveira para seus amigos e discípulos, transcritos na mencionada obra sem posterior revisão do autor. Na segunda, textos em que o Pe. Laurentin descreve o tipo de santidade de Santa Bernadette. Em ambos, só acrescentamos os entretítulos.

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Veja:
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